quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Fatigado

Com as mãos vazias, os pés cansados e já esquecido de toda glória que um dia almejou ter. Parte de seu mundo subterrâneo para a vida real. Sem ter concluído nem ao menos a mais primária da tarefa, com toda falta de habilidade no auge dos seus vinte e poucos anos. Mas já sonhou em ter mãos calejadas, braços fortes, cabelo no peito e estrelas tatuadas. Não passou de esdrúxulo figurante de sua própria história, num filme de poucos recursos rodado com os personagens reais e cenário real. Pois foi isso que decidira ser figurante de sua própria história. Como se não bastasse era pobre. Não teve tempo de admirar a primavera. Privações era o nome, o apelido e sobrenome de já tão fatigado ser que sobre a terra pisou. Por que suas escolhas lhe permitiam se perguntar e afastar o motivo de querer sair e festejar o que ainda não era. Tinha quatro amigo, talvez só dois, um era arrogante cuja elegância de sua capacidade de fingir superava toda questão vital. Tinha trabalho, e trabalhava como um cão, seu chefe era um viado tímido. Este com dor nas costelas e insatisfeito, quase sempre pensava ser uma senhora, semelhante a sua mãe. Continua...

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Tosse

Tosse e esgota
cansa e olha
vê não vê
sente o vento
respira e dói

Cansa cansa
de noite não dorme
dorme e esgota
sonha com insônia
acorda e tosse

Vê e ouve
esquece e não vai
quer morrer
tosse e esquece
tédio ocorre

Vai não vai
sonha, quer sonhar
com vento e sem tosse
só luar
só torce

sábado, 29 de janeiro de 2011

Algodão

Boquinha de algodão
fez beijar o ar
boquinha de algodão
fez mãos transpirarem
boquinha de algodão
de repente seus olhos fecham
boquinha fechada irresistível
Beijo, apenas um
tímido e roubado
surpresa
boquinha de algodão
foi embora.

Abismo para pular

Advertiu-me a esperança de alguma forma. Se encontrasse o abismo, era para pular. Nem quis o buscar pois minha escolha seria voltar e inventar bobagens. Dizem por aí que é bom esquecer, que esquecer alivia e nos traz de volta a pureza. Mas só esquecem os já puros. Os que não perceberam o erro. Os livres de buscar a infinita busca. Não consegui entender o fio da vida. E nem a solidão adjacente de estar no mundo. Maria me ensinou a amar e amei. Amei até me ferir. Amei com intensidade. Amei forte. Amei e me dei por completo. Maria teve medo de tamanho amor e então fugiu, se afastou. Depois amei Mariana, Mayara, Marta, Mara entre outro Ms. Todos meus amores se assustaram. Fui capaz de amar mas de ser amado talvez. Da minha sacada vejo pessoas passar, umas vão sós e outras tem a mão direita ou esquerda dada a outro ser. Me confortaria se isso ocorresse a mim ou não. Coração apertado, nó na garganta, vontade de gritar. Sucumbir com esperança tardia. Foi assim, me deram de comer e comi. Me deram de beber e bebi. Me deram você e não te comi, nem te bebi, nem te fumei, só te beijei. E se aproveitou de mim. É isso. Soube se aproveitar de mim muito bem. E a vida anda abusando freneticamente de minhas inocências, dando rasteiras. Beijos ardilosos...

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Inventor

Eu não sou mais ninguém, nem desejo ser porra nenhuma. Nasci de uma gozada. De um grito dado em uníssono por meus pais. Tenho vinte e poucos anos e até agora nada. Mas te prometo, mundos e fundos. Acredite. Devo ter sido pedra em outra vida. Vocês sabiam que pedras tem vida? -É tem sim, ouvi dizer por aí. Elas tem sentimentos também, é verdade que são um pouco monótonas e vazias. Mas são tão felizes e isso é que importa não é mesmo?
Esses dias resolvi contar uma história prum conhecido, era verdade só uma parte, parte pequenininha. O resto era invenção. Inventar é melhor pois fica mais bonito. Já pensou se tudo fosse a descrição exata das coisas, das pessoas, dos fatos? -Seria chato de mais. Por exemplo hoje mesmo conheci um casal de meia idade e certa prosperidade. Não é melhor assim? ou vou ter de dizer que eles era chatos e pobres? pois essa era a verdade. Acho melhor dizer que eles se amavam, tinham choufer, me convidaram pra beber algo em sua amável casa de campo. A vida fica mais bonita assim. Por isso prefiro dizer o que queres ouvir, pois eu. Eu já deixo de buscar a vaidade só pra poder inventar umas histórinhas de vez em quando. Mas digo a verdade sempre. E a verdade sem é mais cruel e injusta com aos filhos de adão. Se não for pedir demais. Peço apenas umas coisas, peço que me ame e se possível me faça o mais feliz dos seres. Pois esse é meu desejo para convosco. E se você ler até aqui pode ter achado engraçado ou trágico. E qualquer forma se ter-lhe sido útil me sinto recompensado. E assim cumpro a missão de lhe deixar mesmo que de mentirinha feliz. Um minuto se quer.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Abacateiro

A semana passa rápido alguém falou, mas se eu ficar muito triste, triste pra quase morrer ela vai demorar a passar e vou sentir que a vida se prolonga um pouco. Não quero que o tempo passe, quero ficar bem quetinho, sem me mover um milimetro. Ouvindo o silencio, sentindo minha dor de viver a vida sozinho. Pensando na morte magnifica. Ousando respirar e fumando tabaco. Sem misturar o que sou com o mundo. Mesmo sem saber bem o que sou. De vez em quando posso até, sair, sentir frio de noite, procurar paisagens bonitas. De vez em quando posso até encontrar uma garota de olhos de qualquer cor e namorar mesmo que só um pouquinho. A semana passa rápido alguém falou, mas eu quero que ela passe tão devagarinho para poder aproveitar minha a dor diminuta no peito. Mesmo que a semana passe rápido, quero que a vida passe devagar. Viver com soninho e debaixo dum abacateiro. Ainda quero ter um gato de estimação. Desses bem gordos e tristes. Ficar com a mão na sua cabeça fazendo cafune e considerar tudo uma bobagem... e assim me aproximar cada vez mais da única certeza da vida.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Horizontes estreitos

Aquele sorriso aberto de quem nada entendeu parece geralmente ser dado pelos bons filhos. Os filhos que entram para universidade publica, se gabam por beber uma enormidade de garrafas de cerveja e xerocam a vida alheia. E como é bom abraçar os amigos fingidos de amigos, pois nesse meio eles não existem, e registrar o momento de distração numa maquina fotografia digital para depois mostra-la num destas redes sociais. Quem se fode é quem não gosta desses horizontes estreitos. Quem é desprovido da mentira cotidiana de se viver como outros. Quem enfrenta sobretudo a vida e não a esperança do utilitário. Quem se fode morre sem encontrar o gozo festivo. Mas na verdade mesmo que se fode mais que todos são esses burgueses. É trágico e cômico vê-los em seus trajes...